Escrever sobre Comex – por que somos tão poucos?

 

No início de 1997, um recém-amigo, a quem devemos muito, nos convidou para escrevermos um artigo numa importante revista de comércio exterior, na qual era editor. O assunto estava em aberto, com apenas uma exigência, ser algo polêmico. Ficamos surpresos diante do convite, pois nunca havíamos escrito qualquer artigo. E nem sequer tínhamos idéia de que poderíamos fazê-lo.

O fato é que, após relutarmos por alguns dias, acabamos escrevendo o artigo THC – Terminal Handling Charge, a partir de uma experiência desagradável que havíamos tido com a sua implantação no Brasil, quase ao final de 1996.

Parece que o artigo agradou, tanto mais porque praticamente ninguém costumava escrever. O que ocorre até hoje. E muito menos tocar nas feridas e polêmicas da área. Assuntos nos quais acabamos nos especializando. Recebemos muitas congratulações sobre o artigo, o que nos surpreendeu. Com isso, nos animamos a continuar escrevendo. Só não tínhamos certeza sobre se o amigo havia nos convidado para escrever um artigo ou para escrever na revista. Fomos em frente e mandamos-lhe outro, e mais outro, de modo que nos tornamos o maior colunista convidado (sic) da revista, naquele ano. Entendemos, então, que podíamos escrever, e que tudo que estava faltando era um convite, um incentivo, um empurrão.

Depois disso, durante todo este tempo, já escrevemos para quatro dezenas de revistas e jornais. Hoje temos duas colunas fixas em jornais e três em revistas. Afora as revistas esporádicas, as entrevistas e matérias. Sem contar as TVs. E é tudo muito bom.

Mas qual a razão dessa espécie de autobiografia? Quem está interessado nela para querer saber? Certamente ninguém, e nem é o objetivo deste artigo.

O objetivo é bem outro, e ele deve-se ao fato de outro amigo, de uma das revistas que escrevemos, também há alguns anos, ter pedido que escrevêssemos sobre isso. E tentássemos animar outros profissionais da área de comércio exterior a escrever e tentar ajudar à nossa área.

Isso se deveu a uma constatação nossa, e que comentamos com ele, de que, praticamente, nenhum profissional da área escreve sobre comércio exterior. E que havíamos nos tornado, pasmem, um dos que mais escrevem sobre o assunto no país. Isto a despeito de todos os nossos artigos serem polêmicos, e de já termos instigado, através deles, uma discussão sobre a matéria em pauta naquele momento.

Infelizmente, nunca recebemos sequer uma réplica, demonstrando, o que já sabemos. Que ninguém gosta mesmo de escrever, ou não tem tempo, o que é muito menos provável. Poucos dos nossos amigos escrevem.

A idéia deste artigo é justamente, como já pode ser percebido, incentivar nossos melhores representantes a que escrevam. Que passem a outros suas experiências, e que não as guardem apenas para si. Afinal, temos um grande objetivo, e um longo caminho a percorrer para transformarmos nosso país num dos principais players do mercado internacional. E abandonarmos nossa medíocre posição de coadjuvantes, com pouco mais de 1,0% de participação no comércio exterior mundial. Uma verdadeira migalha, ou seja, cerca de  US$ 1.20 a cada US$ 100.00 transacionados pelo planeta.

Ainda mais considerando, como dizemos o tempo todo a nossos alunos, e provamos em alguns minutos sem nenhuma dificuldade, que o comex brasileiro é muito ruim e com parcos conhecimentos. Podemos afirmar que o nosso comex é 1-99. Ou seja, 1% dos profissionais sabe o que faz, enquanto 99% apenas fazem. Todos no piloto automático. E deixamos isso claro nos nossos dois artigos anteriores nesta revista “Erros e pouca vontade aprender” 1 e 2.

Portanto, colegas do comércio exterior, profissionais, professores, etc. etc, mãos a caneta, ou ao computador, como é mais proveitoso em nosso tempo. Vamos incentivar outros a fazê-lo, bem como vamos ensinar os nossos jovens, passar-lhes informações importantes e não mantermo-las apenas para nós.

É bem verdade que nos bicudos tempos atuais, com a falta de emprego na área, ninguém está querendo mais concorrência. Mas, se isto é uma verdade, é uma atitude equivocada, pelo menos por duas razões:

–     Quem sabe tem espaço e continuará reinando.

–     Se ajudarmos, poderemos ter uma melhoria no nosso comércio exterior. E com mais comércio, teremos mais empregos e todos nós ganhamos.

Então, não é tentador? Estamos, com nossos demais colegas que escrevem, aguardando um feedback a este artigo. Se não com alguma réplica, pelo menos com algum artigo interessante e que mexa, de alguma forma, com o nosso comércio exterior. Ainda que seja para discordar de alguns ou do governo. E isso é sempre bom, não é?

Revista Sem Fronteiras

Jornal Diário do Comércio (Por que somos tão poucos?)

Revista Mundo

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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