Fim das faculdades de economia

 

Há muitos anos temos uma ideia um tanto heterodoxa quanto aos cursos de economia. Que é extingui-los no país. Temos colocado a idéia aos nossos alunos de vez em quando. Que, a priori, estranham a colocação. E explicamos por que.

Temos notado que, dentre os grandes problemas do país, temos a falta de conhecimentos econômicos da população. Ficando essa matéria restrita a um pequeno e seleto grupo de pessoas. Não necessariamente estudados ou cultos. Essa não é condição sine qua non para isso. Essa é uma questão de perspicácia. De querer entender o que se passa com os juros e como eles se refletem no preço à vista. “Detalhe com o qual poucos se preocupam. Infelizmente.

Entendemos que alguns conhecimentos mais profundos podem mudar a forma de compra e o país. Por isso, acreditamos que o ensino da economia deve ocorrer permanentemente. Com início já no primário ou pré-primário. Estendendo-se por toda a vida estudantil de cada pessoa. É uma matéria que deve ser considerada como, por exemplo, o ensino da língua portuguesa. Que ocorre em qualquer curso e em todas as séries ou anos.

Assim, a economia também deveria “grudar” na pessoa e não largar mais. Pode mudar o ano, mudar o curso, mas lá deverá estar a economia. Portanto, nem deveríamos ter faculdade de economia. Afinal, ninguém discute, ou não deveria, que o homem (Homo Sapiens) é um Homo Economicus. Desse modo, ele convive com temas econômicos o tempo todo. No trabalho, na escola, na procura de emprego, em casa, na compra de algo, no casamento, na sua dissolução (sic). Tudo é economia. E se tudo é economia, temos que ter conhecimentos econômicos. E não apenas o básico. Tem que ser um conhecimento mais profundo.

E, para que isso ocorra, para que toda população saiba o que acontece, há que estudar e saber economia diuturnamente. Com isso, a população influiria substancialmente no desempenho econômico do país. E não jogaria tanto dinheiro fora. Cuidaria mais dele. Hoje cada brasileiro entende que isso é fatalismo. Isso é verdade. Mas o gasto desse dinheiro, duramente ganho, tem que ser melhor administrado.

Quantas vezes vemos pessoas comprando algo, gastando, por exemplo, R$ 4,95 e dando uma nota de R$ 5,00 e nem se importando com o troco, como se nada fosse. Ora, R$.0,05 representa 1%, ou inflação de uns dois meses atualmente nas terras Tupiniquins.

Quando se financia um carro, pode-se pagar dois e levar apenas um. E os consumidores nem sabem disso. Não fazem a menor idéia do quanto estão sendo esbulhados pelos altos juros da economia brasileira. Os maiores do planeta. As pessoas pensam que numa compra de automóvel financiado a juros de 1%, a taxa é realmente essa. Quando, em realidade, é bem maior no final das contas. Pois é calculada sobre o montante total da dívida inicial e não sobre o saldo devedor que, naturalmente, vai diminuindo mês a mês, enquanto os juros continuam.

E quanto ao famoso empréstimo criado pelo governo, com desconto nos salários, na folha de pagamento, à taxa de 2 ou 3% ao mês? Explicaram ao pobre trabalhador, em especial ao aposentado, que essa taxa é bem mais baixa que a atual cobrada pelos bancos. Que sabemos são altíssimos, E também que esse empréstimo é um grande negócio. Só não explicaram ao pobrezinho que essa taxa de 2% ao mês representa 26,82% em 12 meses. Bem mais alta que a inflação anual atual. E bem mais alta que os reajustes salariais.

O que quer dizer que, ao pegar esse empréstimo, ele estará despoupando. Ninguém teve a gentileza (sic) de lhe explicar que poderia poupar esses juros, que não são menos escorchantes que os bancários normais, já que representam umas cinco vezes a inflação e os reajustes salariais. E nem que, aplicando seu rico dinheirinho, e fazendo algum em cima, poderia ter mais recursos disponíveis para uma compra à vista e com algum desconto. Que é isso que ocorre nas compras à vista, com maior poder de barganha.

É preciso que todos entendam, também, que 10% ao mês, de qualquer coisa, seja inflação, aplicação financeira, etc., não significa 120% ao ano, mas 213,8%. Uma vez que é capitalizado. E isso não é difícil de entender. Algo que tenha valor 100, com mais 10% terá passado a 110. Com mais 10% passará a 121. Com mais 10% irá a 133,10 e assim por diante. Portanto, esses 100 estarão em 133,1 após três meses, e não 130. O que significa que, economicamente, nesse pequeno exemplo, 10 + 10 + 10 é igual 33,1% e não 30%.

Se o brasileiro se preocupasse mais com economia, e o governo fizesse sua parte na educação, ele saberia o que é superávit primário. Que é a diferença entre receitas e despesas do governo, antes do pagamento dos juros da sua dívida. E que ele está absurdamente alto, ao redor de 70, 80, 100 bilhões de reais ao ano. E que, mesmo assim, não paga nem metade dos juros da dívida interna. Que já está se tornando, a exemplos de alguns países europeus, impagável. Os juros sobre a dívida interna, neste ano de 2011, será de 240 bilhões de reais. Enquanto paga este absurdo valor em juros, devido a mais alta taxa de juros do mundo, investe na população brasileira apenas 70 bilhões de reais por ano.

Portanto, nem é preciso mais delongas para mostrar o que seria possível mudar no país se todos, ou a maioria dos brasileiros, entendessem mais de economia. Em contraposição aos poucos milhares que temos hoje. O país seria bem outro.

Portanto, economia já em todos os cursos e escolas e para todas as idades. Não é sem educação e sem conhecimentos econômicos que se faz um país forte e se destaca no cenário mundial.

Samir Keedi: Formar profissionais é importante. Mas, mais importante, é formar gente que faça o futuro.

Jornal DCI

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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