Incongruências Brasileiras

Temos visto alguns articulistas começarem – alguns já o fazem há algum tempo – perceber as incongruências e incoerências deste país grande. Talvez algum dia, num tempo bastante distante, possa ser um grande país. Há poucas chances disso acontecer nas próximas décadas. Mas, não custa rezar à “Santa Esperança dos Últimos Dias”. Nunca se sabe. Melhor prevenir.

Já escrevemos, há bastante tempo, bem como reprisamos, que o crescimento do emprego divulgado é demasiado para o ínfimo crescimento da nossa economia. Não bate, não tem sentido. Como se pode acreditar em crescimento de 2-3 milhões de empregos ao ano quando temos carteiras assinadas de menos de 40 milhões de almas. Com tanto emprego gerado, a economia teria que ter crescido 7-8% ao ano por vários anos. No mínimo.

O mesmo ocorre com a renda das pessoas. Ela cresce muito considerando o baixo crescimento da economia. Também não bate. Alguém está se equivocando e “equivocando” a todos nós (sic) sobre o crescimento da renda ou da economia. Ou em ambos. Seguramente não pode ser o que se divulga.

Vemos isso na educação também. Os investimentos declarados teriam, em tese, que fazer o ensino melhorar. Teríamos que ter mão de obra bem melhor que a que temos e estar disponível à economia. E não é isso que vemos. O investimento em educação nem é tão baixo. Às vezes  acompanha economias externas. Mas nelas, funciona.

Quando comparamos o crescimento da economia com os investimentos realizados pelo país, também nota-se algo muito errado. O país tem tido investimentos anuais médios de 17-18% nos últimos 19 anos, desde 1995. Este investimento não combina com crescimentos médios de 2,5% nos últimos 32 anos, desde 1981. E menos ainda com o crescimento de 3,65% na década anterior, de 2001 a 2010. E menos ainda com o crescimento médio de 4,06% entre 2003 e 2010. Este parco investimento, sem uma enorme produtividade, teria que significar recessão ou, no melhor das hipóteses, estagnação.

Não é difícil concluir que a inflação, que está muito além do centro da meta, que é de 4,5%, não pode ser exatamente a divulgada. Quem faz compras sabe que nossa inflação, ao redor de 6%, não cheira bem a isso. É claro que para isso está se utilizando de subterfúgios como preço dos combustíveis, dos ônibus, etc., mas, mesmo assim. Parece haver algo de podre no reino do “Dinbrasil”.

Aliás, já que tocamos nisso, não há como se controlar a inflação com tamanha tolerância. Temos uma meta que é de 4,5% ao ano. Para começar, é meta muito alta. Depois, se dá uma tolerância de dois pontos percentuais na meta. Ou seja, dois pontos acima e dois pontos abaixo. Quer dizer que a inflação pode variar de 2,5% a 6,5% ao ano. O que quer dizer 45% abaixo ou acima da meta. Alguém, ou todos nós, estamos de brincadeira. Não há inflação que se controle com esta incompetência numérica. Uma tolerância de dois pontos percentuais só pode ser dada para uma inflação de 10% ou 20% ao ano. Neste último caso, ela poderia variar entre 18-22%, o que seria razoável. Variar dois em 4,5% é não querer controlar nada e enganar a todos.

Temos um enorme contingente de mão de obra disponível para trabalhar. Em especial num país com tão poucas carteiras assinadas. Também com tão baixo crescimento. E com uma infra-estrutura medonha, de assustar o país e o mundo. Em que estamos em 107º lugar entre 144 países analisados, segundo o Fórum Econômico Mundial em 2013. Em portos, em 135º lugar. Em que, em nossa opinião, não devemos considerar 144 países. Mas, apenas aqueles que contam no mundo. Que não devem chegar nem perto de 80-100 países. O que quer dizer estarmos muito além dos últimos que contam. É realmente já estar no “Além” (sic).

E, no entanto, o que fazemos com este contingente que poderia trabalhar e dar ao país uma condição melhor? Sim, isso mesmo caro leitor. Damos bolsa-esmola para que não trabalhem e não ajudem o país a evoluir. Estamos incentivando o atraso e a falta de vontade de trabalhar. Em que, segundo já foi divulgado, mais da metade da carga tributária já corresponde a ações sociais. Se é que podemos chamar isso de ações sociais. Que é, na melhor das hipóteses, a melhor forma de controle de uma sociedade. E de perpetuação no poder através do voto de cabresto.

Se acabarmos hoje com a bolsa esmola, e empregarmos todo mundo na infra-estrutura, pelo menos, teremos uma chance maior. Teremos gente ganhando bem mais que a bolsa esmola, comendo e se vestindo bem melhor, e tendo dignidade. Podendo andar de cabeça erguida pelas ruas. Com o trabalho e esses novos salários, no mínimo o país crescerá. Mais trabalho, mais renda, mais consumo, mais emprego, etc. etc.

Saindo desse círculo vicioso e eleitoreiro em que estamos agora, para um círculo virtuoso de crescimento e bonança. E abandono daquilo que já escrevemos há alguns anos, que é título do dito artigo “Opção pela pobreza”, válido ainda hoje. E cada vez mais pelas ações tomadas, e pela conivência de todos nós com isso.

Jornal Diário do Comércio

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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