Malcom McLean e o container

 

Sempre gostamos muito de falar e ensinar, bem como escrever, sobre container. A razão é simples. É, para nós, o mais sensacional equipamento auxiliar de transporte que já se criou. E quem trabalha com ele, certamente não discordará. Foi uma unidade de carga criada por McLean, com uma ideia que carregava desde meados da década de 1930, quando criou sua empresa de transporte rodoviário. Mais tarde, em vista disso, em meados da década de 1950, tornou-se um armador de container, comprando uma empresa marítima com a venda da sua transportadora, na ocasião a segunda maior dos EUA.

Sua criação, com o primeiro embarque em 26/04/1956, materializando aquela ideia iniciada em 1937, não é original no seu todo. Nas ferrovias inglesas, há décadas, já se usava uma espécie de container. Mas, foi original na forma e para outro modo de transporte. Podemos chamá-la de uma revolução para o tradicional modo de operação, na forma de carga solta, o chamado breakbulk.

Usou em seu primeiro embarque um navio tanque, o “Ideal X”, que navegou com 58 containers no seu convés adaptado. Em junho ele foi acompanhado pelo navio Maxton já com 62 containers. Em 04.10.1957 surgiu o primeiro navio porta-container da história, o “Gateway City”, com 226 unidades de 35’ (trinta e cinco pés). O pé (‘) é a medida com a qual é padronizado o container, e que equivale a 30,48 centímetros. O pé é dividido em 12 partes, cada uma delas sendo de 2,54 centímetros, representando uma polegada. Os navios são, há muito tempo, construídos com baias para unidades de 20’ e 40’, respectivamente 6,09 m e 12,19 m. A unidade de 20’ é denominada de TEU – twenty feet or equivalent unit (unidade de 20 pés ou equivalente) e utilizada para medições.

Como se sabe, e também pode ser apreciado através de uma pesquisa sobre o desenvolvimento do mundo na segunda metade do século XX, o container é, segundo este interlocutor, o pai da globalização visível que existe no planeta. Falamos em visível, sempre, pois a globalização não é algo novo, e existe desde os primórdios da humanidade, e praticada através de vários atos, como comércio, guerras, dominações, tráfico de escravos, viagem, etc.

Assim, podemos dizer, que se o container, ou algo equivalente, jamais tivesse sido criado, com toda a certeza a humanidade estaria com desenvolvimento de anos 70, talvez início de anos 80. O impacto desse equipamento na vida de cada um é extraordinário, embora a maioria esmagadora da humanidade sequer tenha conhecimento disso e, muitos outros, sequer da sua existência.

Notamos, ao longo de nossa carreira profissional e acadêmica, que nem a maioria do contingente de pessoas que trabalham ou se relacionam de alguma forma com o comércio exterior, notaram isso e dão o valor que esta unidade merece. E tampouco ao nosso herói, Sr. McLean. Com toda a certeza, este personagem é uma das personalidades mais importantes da história da humanidade, em especial do século XX, e dos poucos a mudar o mundo tão radicalmente. Muito embora, talvez, nem ele mesmo, tivesse consciência do que estava criando.

Um navio porta-container tem a capacidade de receber e transportar carga várias vezes mais do que os navios convencionais. Esses navios transportam carga apenas até o convés, armazenados nos compartimentos limitados por porões e decks, e dentro de seu formado em “V”. O navio porta-container não tem essas divisões, mas a divisão em bays (baias), rows (colunas) e tiers (camada), onde são colocadas as unidades, sendo que cada posição dada pela bay, row e tier indica um slot, ou seja, uma posição de container de 20’. Isso implica em mais carga transportada em face da sua racionalização. O grande cheque-mate em relação ao navio convencional é a capacidade de transporte dessas unidades no convés do navio, hoje realizado a altura de 7/8 containers. Isso significa que no convés se transporta muito mais carga que nos porões, abaixo do convés. E note que isso ocorre de bordo a bordo.

Quando se analisa tudo isso, e se vê a fantástica multiplicação dos navios, cargas, transporte, etc., fica-se curioso e vai-se investigar o que teria ocorrido com o comércio mundial no pouco mais de meio século do container. E a conclusão é surpreendente.

O container foi padronizado em 1968. Ninguém desconhece as vantagens de uma padronização. Com ela pode-se construir navios adequados para transporte dessas unidades. Bem como equipamentos especiais de movimentação como reachstackers, transtainers, portainers e outros. Também instalações portuárias adequadas a esses equipamentos e ao container, etc. Como se pode imaginar, discorrer sobre isso é chover no molhado como diz um velho ditado.

Portanto, a partir da padronização, se criou as condições de incremento das operações de cargas conteinerizadas que já vinham ocorrendo no final dos anos 60 e 70. Propiciando um aumento do comércio muito maior do que ocorreu naquela pouco mais de uma década. É incontestável a responsabilidade do container na evolução e multiplicação do comércio, que certamente não teria ocorrido sem ele.

Revista Logística

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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