Matriz de transporte – benefícios do uso da ferrovia

Passada mais de uma década da privatização das nossas ferrovias, é hora de algum comentário. Entenda-se como privatização a entrega à operação pela iniciativa privada. Os ativos continuam do Estado.

O mal desse tipo de entrega é que a concessionária investe no que não é dela, ficando o investimento de bilhões de reais para o Estado no caso da concessão não ser renovada.

Os problemas são pelo menos de duas ordens. O primeiro é que o investimento deve dar retorno durante o período de concessão. Isso implica encarecimento das operações ferroviárias, como ocorre com as portuárias. Se o ativo fosse dos investidores, é provável que houvesse barateamento desses serviços.

O segundo fica por conta do próprio investimento e sucateamento do ativo, com redução da qualidade das operações. Ninguém irá investir nos últimos anos de uma concessão, sabendo que aquilo não é seu e com possibilidade de retomada pelo poder concessionário. Não devemos esquecer como as coisas funcionam, e todos conhecem a falta de previsibilidade e regras fixas do País.

De qualquer modo, como o empresariado tem vocação para herói, temos visto progressos e reduções com custos das operações. A produtividade também cresceu, beneficiando o usuário, a economia e o comércio exterior. Mas é preciso que o governo federal entre com recursos a fundo perdido para ajudar as ferrovias.

Todos têm consciência de que quando se repassa algo para alguém é preciso que esteja em plenas condições de exploração e não foi o que ocorreu com nossas privatizações. O concessionário deveria entrar produzindo, fazer a manutenção e melhorar o ativo de modo a entregá-lo nas mesmas condições.

Obrigar o concessionário a devolver a empresa completamente reformada e com ativos em perfeita ordem não é justo. Mas, de qualquer modo, a ferrovia já apresenta grandes e indiscutíveis resultados, inclusive lucro, e precisamos incentivá-la e aproveitá-la.

Sendo a ferrovia um modo de transporte mais barato que a rodovia, a mercadoria pode chegar às prateleiras com custo menor, podendo ter preço menor de venda. Com preços menores, o poder aquisitivo da população, dado pela sua renda disponível, sobe, sem qualquer aumento salarial, permitindo a compra de mais unidades.

A consequência disso seria direta, com mais consumo, obrigando o aumento da produção. O resultado seria maiores investimentos e aumento do emprego, gerando mais renda disponível na economia. Estaria estabelecido o que se chama de círculo virtuoso da economia.

Assim, o país precisa voltar-se à mudança da matriz de transporte, que é uma das formas de crescimento sustentado. A melhoria da logística interna fará milagres pela nossa economia interna e pelo comércio exterior. A logística é hoje a última fronteira para melhoria de nossos processos e distribuição de mercadorias e precisamos nos enquadrar no que há de melhor no mundo.

O investimento na ferrovia é urgente. Temos menos de 20% da malha ferroviária da terra do Tio Sam e em piores condições. Em 1948, tínhamos 35.000 quilômetros de ferrovia, reduzidos a 29.000 quilômetros hoje.

As concessionárias estão fazendo sua parte e é preciso que o governo faça a sua. É necessário que os usuários descubram e prestigiem a ferrovia de modo a tornar o país melhor. Até a qualidade de vida seria melhorada com a retirada de boa parte dos veículos rodoviários das vias públicas, reduzindo o investimento em estradas, poluição etc.

Precisamos que o transporte rodoviário, o mais versátil de todos, tenha utilização mais nobre, fazendo pequenos trajetos, viabilizando melhor a intermodalidade e a multimodalidade, bem como os trajetos peculiares.

revista Sem Fronteiras

jornal Diário do Comércio (BH) (Benefícios do uso da ferrovia)

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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