Mercosul e desolação

 

Há alguns anos escrevemos um artigo sobre a vocação do Brasil para ser pobre. O nosso “Brasil: Opção pela pobreza”. Resolvemos mantê-lo na gaveta por alguns anos, pelo seu peso. Em 2009 resolvemos publicá-lo em jornal. Nosso convencimento sobre essa opção já havia passado do limite. Nas últimas semanas esta opção não sai do nosso pensamento.

Não bastava termos um Mercosul que não funcionava, e temos muitos artigos sobre isso, e ai ainda colocamos a Venezuela. Inspiração, no mínimo, de péssima qualidade. Agora, com a introdução da Bolívia, não sabemos nem mais como classificar a iniciativa.

Já somos um dos países no mundo com menor quantidade de acordos comerciais celebrados. E uma das razões no passado era a maldição do “4 + 1”. No qual acordos somente eram realizados se todos os países do Mercosul concordassem. Agora a maldição, depois de passar pelo “5 + 1”, ganha o nome de “6 + 1”. E pode vir mais. Para que celebremos algum acordo comercial temos que ter a concordância unânime de todos os seus membros.

Já tínhamos a Argentina, e isso não nos parecia suficiente. Agora temos dois novos fantásticos componentes. Parece mais fácil agora, para nós, que os Estados Unidos da América do Norte colonizem Plutão, pela qual a nave New Horizons acaba de passar e fotografar, do que celebrarmos novos acordos comerciais.

Por que o país entrou nessa rota da opção pela pobreza? Por que isso parece ter se acentuado na última dúzia de anos? Complicamos tanto por opções eleitoreiras? Todos sabem – ou deveriam saber – que o comércio exterior é, de longe, a melhor forma de levar um país ao desenvolvimento. É só analisar a história e ver o que ocorreu com os grandes países. A China é o último exemplo dessa verdade inconteste. A Índia parece ser a nova componente do grupo.

E o Brasil, com isso, continua o país do futuro – no pensamento errôneo que todos nós. Já passamos pelos NICs – New Industrialized Countries nos anos 1970. Em que seríamos top de linha na produção de países desenvolvidos no início do século 21. Todos sabem onde estamos agora, e onde estão os velhos colegas Hong Kong, Singapura, Taiwan, Coréia do Sul.

Há alguns anos fomos colocados em um novo grupo, os Brics, constituído por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Todos sabem que de Brics nunca tivemos nada. Sempre dissemos e escrevemos que o bloco era Rics. O que aconteceu, o que os demais cresceram e o que fizemos não é segredo para ninguém. Estamos no pior dos mundos, sem saída econômica possível.

E, nessa dúzia de anos, além de enterrarmos a Alca – Associação de Livre Comércio das Américas, um ovo de Colombo para o comércio exterior, ainda tratamos de jogar fora o maior mercado do planeta, o do grande irmão do norte. Para o qual mandávamos 25% de nossas exportações, com boa parte delas industrializados. E atingimos recentemente inacreditáveis 10%. Agora, passadas os melindres das espionagens, corremos atrás dos prejuízos. E cuja participação, claro, pela nova configuração existente, não será mais recuperada.

Vamos continuar tocando as mesmas teclas do piano da insanidade com que nos jogamos de cabeça no Mercosul. Acordo que, como já frisamos muitas vezes, foi bom, mas, há muitos anos, é nosso cemitério. O Mercosul precisa ser descartado definitivamente, como a melhor opção de caminhada do país. Temos que nos voltar para o mundo desenvolvido, aquele que funciona, que tem um horizonte. Ou, como remédio para alguma cura, deixar de ser uma zona aduaneira. A história mostra que zona aduaneira deve levar muitos anos para ser atingida, e não começar por ela como fizemos.

Temos que adotar, no máximo, uma área de livre comércio, em que sejamos livres para realizarmos acordos comerciais com países que nos tragam alguma coisa. Está certo que a Bolívia hoje está crescendo mais que o Brasil, mas, seu passado é desolador. E seu histórico com nosso país na última década a condena.

O Mercosul é uma união que nem sequer segue sua própria filosofia de criação. Que seria uma área constituída de países democráticos. Se a Venezuela é democrática, não sabemos mais o que é uma ditadura. Se suspender o Paraguai, que não aceitava a Venezuela, é democracia, não sabemos mais o que é ditadura. E o Paraguai havia agido democraticamente. Rapidamente ou não, mas com democracia, para afastar seu presidente.

Portanto, fim do Mercosul, ou quiçá, retroceder a uma área de livre comércio. Liberdade aos nossos empresários para que se escolha a melhor forma de desenvolvimento. O governo tem que entender que ele não produz nada – e quando o faz é um desastre. E que desenvolvimento é feito pelas pessoas e pelos empresários. O governo, não sendo um “atrapalho”, já faz um grande esforço pelo país, e por isso já pode, até, ser louvado.

Vamos olhar para o que interessa em termos de acordos comerciais. União da pobreza, da ditadura, da falta do bom senso só leva a mais pobreza e falta de bom senso. Temos que olhar para grandes mercados, grandes países, aqueles dispostos ao comércio de fato e ao crescimento. Aqueles que olham para seu povo como pessoas que merecem algo, e não apenas como votantes em eleições.

Brasil, já passou da hora. Vamos levantar do berço esplêndido em que dormimos por séculos. Hora de dar a seu povo o que ele merece. E extirpar de seu seio os que nos levam às profundezas da pobreza.

Revista Sem Fronteiras Virtual

 

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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