O Brasil acabou

 

Voltamos novamente à péssima e insolúvel situação econômica brasileira. Com certeza alguns estranharão tanto o título quanto a primeira frase deste artigo. Mas, nenhum dos nossos leitores da última década e meia estranhará, e saberá do que estamos falando. E mostraremos isso mais à frente.

Durante muitos anos alertamos sobre o que viria pela frente. Fizemos isso em centenas de artigos, palestras, aulas, etc. É uma pena não termos sido levados em conta. Ao contrário, fomos taxados de pessimistas. Logo nós que representamos a realidade absoluta, nem pessimista nem otimista. Por ironia, desde 2014, somos taxados de otimistas. Vai entender…

Nas últimas semanas enviamos alguns desses artigos do passado, para relembramos aos nossos leitores mais antigos, bem como mostramos aos novos, o que escrevemos, e tivemos publicado sobre o assunto.

E que podem ser procurados e relembrados “Bons fundamentos da economia. Bons? Quais?” publicado em 2002, 2007 e 2012. “Investment grade – que péssima hora” publicado em 2008. “Armageddon brasileiro” publicado em 2013. “Marolinha ou marolona”, publicado em 2009. “Brasil: buraco 2020”, publicado em 2012”. Brasil 2020 – o retorno” publicado em janeiro/2014.

Por que o Brasil não tem mais saída? Por que as saídas possíveis, e elas até existem, jamais serão adotadas. Tanto por falta de vontade política, inteligência, interesses, quanto à inviabilidade.

Sabemos que nosso povo é pacífico, a ponto de ser cordeiro, como já falamos muitas vezes. Também, a maioria esmagadora não conhece o Brasil de fato, como alguns poucos o conhecem. Podemos incluir nesse grupo economistas, jornalistas, empresários, estudantes e já formados e com nível superior, etc.

Uma das saídas é a privatização ampla, total e irrestrita das cerca de 150 empresas estatais existentes. Sabemos que o Estado é o “pior gerente” (sic) que existe. Empresa estatal é cabide de emprego e fonte de enriquecimento de alguns poucos. Isso porque elas são empresas do povo (sic).

E o exemplo-mor é a Petrobrás, por ora, que muitas ainda virão por ai. Sempre dissemos e escrevemos que, se privatizada, seria, de longe, com o know-how adquirido, a maior e melhor empresa de energia do mundo. Mas, o que ela é hoje?

Uma empresa quebrada, inviável, sem a menor condição de sobrevivência. Só para ficarmos num item, sua dívida de cerca de R$ 450 bilhões de reais é impagável. Se ela utilizar seus lucros normais anuaís, de cerca de 20 bilhões de reais por ano, levará mais de 20 anos para pagar a dívida. Isso sem usar um único centavo para distribuição de lucros, pagamento de juros da dívida e investimento. Portanto, inviável. Sobreviverá, sabemos, com a utilização do dinheiro dos impostos, retirados de 205 milhões de brasileiros, que não terão um único benefício com isso, pois não são acionistas. O povo ficará mais pobre e os que a lesaram mais ricos.

Outra das saídas é extirpar da sociedade a corrupção, que matou e está matando o país. Mas, sabemos que isso é impossível. Pelo que se fala abertamente hoje, ou à boca pequena, em comentários numa conversa, na imprensa, isso parece estar no nosso DNA. Sendo verdade, parece haver pouco a fazer. Claro que há muitos que não tem esse DNA. Mas, mesmo com a pequena ou média quantidade que permeia a nossa sociedade, não se consegue mudar. Uma maçã podre afeta 10 ou 100 boas, como se sabe. Voltamos ao dito lá atrás, sobre um povo cordeiro e que não age para seu próprio bem.

E corrupção não é só se aproveitar de empresas estatais e do governo, ou da “viúva” como muitos analistas o chamam. Quando se compra um guarda para não tomar uma multa, é corrupção. Como se pode chamar querer tirar vantagem em tudo como andar com o carro em acostamentos?

Como chamar quem entra no serviço público através de padrinhos, burlando concursos e prejudicando pessoas que estudaram e se prepararam para ele? E quando se vota por dinheiro ou um simples quilo de feijão? Os exemplos são fartos. Deixamos aos leitores para que nos ajudem e façam suas listas e tentem mudar isso em nossa sociedade. Vamos juntos mudar o país.

Há outro ponto, primordial em questão econômica. Todo o resto gira em torno dela. Que é a dívida interna bruta da União. Todos sabem, e vamos relembrar como tem funcionado essa dívida. Ela era de 89 bilhões de reais, em 1994. Passou a 1,1 trilhão ao final de 2002. Ao final de 2010 já tinha atingido 2,4 trilhões. Em 2014 chegou a 3,4 trilhões, pouco acima dos 3,3 trilhões que previmos em um artigo em 2011. Já está previsto chegar a 3,7 trilhões, no mínimo, ao final de 2015.

Como se pode ver, essa dívida é impagável, ou não teria se multiplicado por 42 em apenas 21 anos. Segundo nossa crença, já colocada no artigo “Brasil: buraco 2020”, ela será igual ou maior que o PIB – produto interno bruto em 2020.

E por que cresce dessa maneira? Por que o Brasil e o Banco Central, completamente isolados do mundo, mantém a taxa de juros na estratosfera. Hoje em 14,25%. Isso significa pagar entre 300-400 bilhões de reais de juros atualmente sobre a dívida.

A economia que se faz para os juros, o chamado superávit primário, este ano será negativo. E nos últimos anos tem se situado em meros cerca de 1-2% do PIB. Para a dívida não aumentar um centavo sequer, o superávit primário precisa ser de 7% do PIB, o que nunca se fez e nunca se fará. Não é preciso escrever mais para se entender o que está acontecendo e qual o futuro previsto para 2020, que já se antecipou para 2015.

Se seguirmos o mundo, e colocarmos a taxa de juros em 0% como o mundo desenvolvido tem feito há anos, com pequeno superávit poder-se-ia começar a amortizar a dívida. Mas, isso jamais será feito pela Inteligência política e governamental brasileira. Que enxerga a economia de forma vesga, e quer recriar a roda.

Para isso usa o falacioso argumento de que juro baixo faz explodir a inflação. Mentira que só os leigos aceitam. Por que o Japão, com juro 0% há 10 anos, tem deflação? Por que ocorre o mesmo na Europa?

Por que os Estados Unidos da América, com juro 0% há seis anos, tem inflação de 0,3%? E todos querem provocar pelo menos 2% de inflação para mover a economia, que é uma política acertada.

Portanto, não é com taxa de juros alta que se controla a inflação. Ao contrário, quanto maior a taxa de juros mais caro o custo do dinheiro para investir, portanto, mais custo e mais inflação.

É preciso colocar a taxa de juros em ou perto de zero para incentivar o investimento e o consumo. Sem investimento não há produção, nem consumo, nem desenvolvimento. A taxa de investimento no Brasil está em 18% na média, de 1995 a 2015. E este ano esta abaixo dessa média, portanto, mais recessão. Este ano a economia retrocederá no mínimo 2-3%. E esse quadro de recessão ou crescimento irrisório continuará até 2020 ou 2030, sem perspectiva alguma de melhora, se nada do que propusemos for feito.

Outra saída para a dívida, que colocamos na inviabilidade absoluta, é o “devo, não nego, não pago”. Ai extingue-se a dívida, se começa do zero, e os recursos irão para investimento. Mas, nem pensar, não pode ser feito, pois isso significa a guerra civil e o fim prematuro. Portanto, a única saída viável é a redução da taxa de juros a níveis civilizados. Isso moverá a economia rapidamente e trará a solução pretendida, com desenvolvimento contínuo.

Nem vamos falar na carga tributária, que é desnecessário, e todos conhecem seus efeitos. Um país com nosso nível de desenvolvimento não pode ter carga tributária acima de 20-25% do PIB.

Jornal Diário do Comércio Virtual

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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