O Brasil está sendo destruído

Há muitos anos vimos, insistentemente, até em demasia, apontando as mazelas brasileiras. Deixando cada vez mais claro que o país não tem governo. Não tem política econômica. Não tem a menor ideia do que está fazendo. Com isso, estamos todos completamente perdidos e achamos que poucos sabem o que fazer hoje diante dessa situação. Menos, obviamente, individualmente, quem está fazendo (sic).

O país está sendo destruído, passo a passo, com pouquíssimos percebendo. E, quanto mais falamos e escrevemos, pior ficam as coisas dia a dia. Serão nossos artigos e comentários os culpados da desgraça geral? Parece que quanto mais rezamos, mais assombração nos aparece. Pelo menos temos um grande amigo, ou mais que isso, que o diz com certa frequência e há muito. Se é assim, precisamos parar de escrever e falar.

Há pouco apontamos o que vem acontecendo, por exemplo, com a nossa empresa monopolista da energia automotiva. Uma empresa virtualmente quebrada. Embora com todas as condições de ser, como temos dito, a maior e melhor empresa de energia do mundo. Basta usar todo o cabedal de conhecimentos que já adquiriu, em conjunto com uma administração de fato, não política e interesseira. A empresa tem que ser privatizada imediatamente, sob pena de desaparecer.

O uso político de uma empresa desse porte e virtual capacidade, esta tolhida há muitos anos, é, no mínimo, um crime inafiançável. Nem vamos prever que ela vai quebrar, pois não se quebra o que está quebrado. Com tudo que se tira dela, poderia fazer tudo sozinha e ser a melhor como dissemos. É preciso extirpar o uso político das coisas brasileiras. O Brasil não é quintal de ninguém.

Aliás, o próprio governo deveria ser privatizado, o que, em dois artigos de há alguns anos, vimos pedindo. Mas não a privatização que estamos condenando aqui.  Obviamente uma tarefa impossível, mas suficiente para mostrar que não é dessa maneira que se governa, e que é preciso mudar tudo. Governar é para quem entende.

Há algum tempo, também, dissemos que o Brasil estará sem saída até 2020, num artigo intitulado “Brasil: buraco 2020”. E assim por diante em muitas ocasiões e artigos. Amigos e colegas já nos disseram que fomos otimistas em excesso. Que pelo andar da carruagem a hecatombe será muito antes. Nós próprios sabemos disso e achamos que sim. Naturalmente, bem antes do artigo. 2020 era uma data para não causar tremores ou terremotos, mas nunca achamos que iríamos tão longe.

Temos visto o que se tem feito com o país, em todos os sentidos, e da pena do povo ingênuo. Que não faz a menor ideia da situação. E muito menos que não há saída a continuar tudo igual. Como dizemos, os economistas, ceteris paribus. Se continuarmos todos morando em Marte, se continuarmos alheios ao que ocorre. Se continuarmos achando que não é problema de cada um de nós, não será mais mesmo. No futuro não haverá com o que se preocupar. Todos sabem que só pode haver preocupação com o que existe.

Já tem sido escrito, e já percebemos de muito, que metade do orçamento da nação está comprometido em ações sociais. É a hecatombe. Em poucos anos – estamos novamente sendo de um otimismo extremo – não haverá dinheiro para nada. Nem para as ações sociais, nem para as aposentadorias, nem para os juros da impagável dívida e seus juros, que crescem exponencialmente, etc.

Pobre país este em que o individualismo e o poder pelo poder prevalece. E em que temos um legislativo que não funciona. Quer dizer, funciona, sabemos como e para quem. Agora estamos sendo, em alternâncias depressivas, pessimistas (sic). Temos um judiciário que nunca funcionou e que parece, agora, querer entrar na rota certa. Será? Mas, até quando? Todos sabem que no Brasil não existem três poderes. O que temos é apenas o executivo executando, legislando e “judiciando”.

Enquanto este grande acampamento – talvez algum dia venha a ser um país, uma nação – continuar fazendo tudo igual, não haverá chance de resultado diferente. Enquanto o povo não compreender que tem o poder, que é ele que manda, continuaremos abismo abaixo. Mas, como perceber com a atual política, e com o atual povo, que olha o instante e não o minuto seguinte? Um povo em que o interesse individual é muito maior do que o interesse coletivo? Que quer viver de bolsa esmola ao invés de fazer o país crescer, com trabalho e desenvolvimento, quando há tudo por fazer.

Como se costuma dizer, só se percebe o valor das coisas quando se a perde. E só perceberemos isso quando não tivermos mais país. Quando não pudermos mais honrar os compromissos. Quando não houver recursos para nada. Convém lembrar que o país não tem mais chances de mudar nada com aumento da arrecadação. Já temos a mais alta carga tributária do mundo, em 36% do PIB – produto interno bruto. Mas, conforme nossas colocações a nossos alunos e leitores, em realidade por volta de 50% ou mais. Ou seja, o limite já foi ultrapassado há muito.

Consequência disso é que, juntamente com os maiores juros do planeta, com a má administração dos recursos, com a excessiva ingerência na economia, com a condução de pouca sabedoria, os investimentos são irrisórios, muito aquém do necessário. E, sem investimento e crescimento, que não há como ocorrer, não haverá chance de nada.

Assim, alguém ainda tem esperança do país ser alguém? Ninguém tem, ou se ilude. Ou está ganhando com isso e não interessa que se mude.

Pobre país, descoberto rico, povo versátil, tem tudo que os outros não tem, não ganhou nenhuma das porcarias que outros tem e, no entanto, conseguimos ser o pior. Como se trabalha com bons materiais e se produz tanta porcaria?

Jornal Diário do Comércio

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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