O Brasil tem de assumir sua condição de país agrícola

 

O Brasil é um país agrícola. Todos sabem disso, mas não gostam de assumir o fato, considerando-o depreciativo. A razão é um absoluto mistério para nós, que resolvemos abordar o assunto de frente. Da mesma forma que o fazemos freqüentemente em nossas salas de aula. Seja na graduação ou na pós-graduação, ou cursos técnicos.

Quando falamos em agrícola, queremos dizer tudo aquilo que se refere ao campo, portanto, também à agropecuária, à economia extrativa, etc. Estamos resumindo tudo, para efeitos de facilitação, em agricultura. Entenda-se tudo isso como agronegócio.

Desde sempre, quando se fala que o Brasil é um país agrícola, e que deveria assumir essa condição, temos visto resistências. E percebe-se que isso ocorre porque se considera isso pouco lisonjeiro ao país.

Acreditamos que isso não deveria ser levado dessa maneira, visto que o nosso maravilhoso país – pena ter governo, melhor dizendo, desgoverno (sic) – tem tudo para ser o melhor país do mundo de todos os tempos. Tudo que se procura que um país deve ter de bom ele tem. Tudo que se considera ruim para um país nos não temos. Assim, em termos físicos, é absolutamente imbatível.

Então a resistência, quando analisados todos os pontos que interessam, fica inexplicável. E não precisamos nos reportar ao que são esses pontos, visto serem de amplo conhecimento de todos, e por já terem feito parte de artigos anteriores nossos.

Se nos pusermos a analisar as condições que o país apresenta veremos que o ideal é assumirmos essa condição. É ela que tem feito deste país algo muito melhor, e nem precisamos ir muito longe para vermos isso.

Reportando-nos apenas aos três anos desta década, século ou milênio, a escolher, percebe-se que é a área que mais cresce no país. Se verificarmos os números relativos às nossas exportações constataremos que, dos superávits ao longo deste triênio, eles existiram basicamente pela via agrícola.

Em 2001 tivemos exportações de cerca de 58 bilhões de dólares norte-americanos, situando-se as importações em pouco mais de 55 bilhões dos mesmos dólares. Nesse ano o superávit foi de pouco mais de 2,5 bilhões de dólares. O agronegócio, sozinho, representou um superávit de 16 bilhões. A sua exportação foi de 24 bilhões, representando pouco mais de 40% das vendas externas, com importação de 20 bilhões. Isso significa que sem esta dinâmica área teríamos apresentado um déficit na balança comercial de cerca de 13 bilhões.

Não satisfeita com isso a área do agronegócio continuou mostrando o seu valor. Em 2002 nossa exportação situou-se em 60 bilhões, tendo a importação sido reduzida drasticamente para 47 bilhões, para nossa tristeza. Um país que não importa e não se moderniza, em especial quando precisa importar máquinas e equipamentos para isso, só pode caminhar para trás. Assim, o superávit situou-se na casa de 13 bilhões. O agronegócio apresentou-se com exportação de 24 bilhões e a importação com 4 bilhões, com superávit de 20 bilhões. Novamente essa área fantástica, cuja peso na exportação foi novamente de 40%, superou o saldo global da balança comercial. Quer dizer, sem ela, novamente teríamos tido um déficit nessa balança.

E o que será que ocorreu no ano de 2003, o da grande explosão da nossa exportação? Vendemos o recorde de 73 bilhões e compramos 48 bilhões, elevando o superávit para o saldo histórico de 25 bilhões de dólares norte-americanos.

E o que terá ocorrido com a balança do agronegócio? Terá, finalmente, perdido a corrida e não conseguido o tempo ideal para participar das olimpíadas na Grécia? Não. Pelo contrário. Mostrando seu dinamismo e para o que ela está ai, a exportação situou-se no patamar de 31 bilhões, com importação de 5 bilhões. Resultando um superávit de 26 bilhões de dólares norte-americanos, novamente maior que o da balança comercial global. E mais, subindo sua representação nas vendas para mais de 42%. E vide que o país teve recessão, pela primeira vez desde 1992, de 0,2%. Sem o agronegócio, o desastre teria se transformado em catástrofe.

Assim, será melhor parar de considerar depreciativa para nosso país a agricultura, pecuária, etc. Para um país que tem o maior território disponível para plantação e pasto do planeta, único, provavelmente, a poder continuar a mostrar crescimento na área nas próximas décadas, temos que parar de ter vergonha disso.

Costumamos dizer, para comparação, e vermos se mudamos essa mentalidade, que o maior país agrícola do mundo chama-se Estados Unidos da América do Norte, e que não se envergonham disso. Os EUA representam cerca de um terço da economia mundial, com um PIB de 11 trilhões de dólares.

E então Brasil, que tal assumirmos isso de vez? Se sem assumir, sendo envergonhados, somos tudo isso, o que ocorreria assumindo-se a condição?

Já somos os maiores exportares do mundo de soja, frango, carnes, café, e várias outras mercadorias. Podemos ser muito mais, e basta querermos e assumirmos a condição.

Pelo orgulho nacional do país agrícola, pensemos que o mundo tem que comer. E nós também que temos mais de 50 milhões de brasileiros que não o fazem adequadamente.

Revista Conexão Sindag

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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