Porto de Santos 2024
Todos que nos acompanham ao longo dos últimos anos, e têm lido nossos artigos, sabem que poderíamos ter titulado este artigo de “Porto de Santos, a demência”. É conhecido o real apreço que temos pelo porto de Santos. Mas, sabem também, quanto somos realistas. Não pretendíamos retornar a este assunto tão cedo mas, diante dos fatos, tornou-se mister retornar a ele.
Temos lido que há planos e projeções megalomaníacos novos para Santos. Para possibilitar a movimentação de 230 milhões de toneladas de carga em 2024. Não há ninguém, a não ser que não seja do ramo, que não saiba dos imensos gargalos que lá existem. E quase insolúveis a nosso ver.
Quanto ao porto em si, não vemos problemas de crescimento. Espaço é o que não lhe falta. Áreas para construção de novos terminais estão sobrando. Pode-se dobrar a quantidade de berços e/ou terminais sem qualquer dificuldade. Quiçá até mais, já que a idéia é se usar dársenas. O que se precisa é apenas de investimento. E isso, sabemos, é muito fácil de se obter. A iniciativa privada está ai para isso. O capitalismos existe para viabilizá-la.
Assim, o problema de seu crescimento não é de espaço. É de lógica. A cidade hoje é muito grande para permitir que o porto continue crescendo dessa forma. Já se tornou, a nosso ver, uma opção entre a cidade e o porto. Entre as pessoas e o comércio. E a conjugação dos dois aspectos começa a parecer difícil.
Sabemos que o crescimento do porto está sujeito, também, aos acessos. Outro problema grave. Já citamos antes que os acessos atuais não permitem crescimento. Nas atuais condições, sabemos o quanto se leva para ir e voltar ao e do porto. Quanto tempo as pessoas levam para subir e descer para seu lazer? Ou aqueles que trabalham em outras cidades? Ou aqueles de outras cidades que vão para lá? Assim, é o momento de se optar. Mesmo com a possibilidade de crítica, entendemos que a opção primária é o ser humano.
E isso é perfeitamente factível num país continental, com tanta costa marítima. Com possibilidade de descentralização do crescimento. Dando chance a outros estados da federação de também se desenvolverem. Não é produtivo que apenas um porto retenha 27% das operações de comércio exterior de um país. E, se nos arraigarmos ao regionalismo, e não quisermos perder carga para outros estados, tudo bem. No próprio estado há espaço suficiente para outros portos. Já apontamos, mais de uma vez, que Peruíbe é a solução do porto de Santos.
A questão de acessos é a pior de todas as situações e gargalos. E entendemos que é o principal problema da expansão do porto de Santos. Com a situação atual, de predomínio absoluto do transporte rodoviário, a solução seria quadruplicar as vias de acesso que temos hoje. Aumentando nesta quantidade as faixas de cada pista existente. Ou construindo novas rodovias de acesso. E sabemos da quase impossibilidade dessa ocorrência. Tanto pela questão ambiental, muito séria hoje, quanto pela capacidade de absorção da cidade.
Uma mudança da matriz de transporte ajudaria bastante. Mas quanto da carga atual e futura pode ser transportada por via férrea? A ferrovia poderia passar dos atuais estimados 20% da carga, para 50%. Hoje, 20%, significa 16 milhões de toneladas. Teriam que avançar para 115 milhões. Será viável para uma ferrovia em direção a Santos? De qualquer modo, mesmo assim, a rodovia continuaria tendo problemas. 80% hoje é cerca de 65 milhões de toneladas. 50% em 2024 será 115 milhões. Assim, salvo melhor juízo, e que estejamos viajando, nos parece fora de cogitação conseguir triplicar a carga do porto de Santos.
E não estamos citando, por já termos falado muito, as perimetrais. Que mesmo prontas, certamente não darão conta. Também a dragagem do porto, que nunca ocorre. Pode-se chegar a 15/16 metros? Ou 230 milhões seriam apenas para pequenos e médios navios?
Mas, como se costuma dizer “não acredito em bruxas, mas que existem, existem”. Assim, é aguardar para ver no que vai dar este aparente sonho inviável. A menos, é claro, que se queira realmente destruir a qualidade de vida da cidade de Santos. Duramente conquistada com o tempo. Claro que com a ajuda do porto, o que não se pode negar. Mas, a continuidade do mesmo processo pode ter efeito contrário.
No porto de Santos Isso funciona, entendemos, como o processo de se alimentar. Quando temos fome, comemos. Conforme vamos comendo, e nos satisfazendo, vai se reduzindo nossa necessidade e capacidade de comer. Mas, muitas vezes nos esquecemos disso, em especial num belo churrasco. Ou numa sensacional feijoada. E este interlocutor não escapa a isso, claro. Resultado é aquela sensação de peso, de mal-estar, que nos obriga a um sal de fruta ou algo equivalente. Ou seja, para tudo há um limite.
Neste caso do porto de Santos, especialmente o espaço e o meio ambiente. E, porque não citar, o próprio investimento para todas as necessidades, não apenas de construção de terminais portuários, armazéns, pátios, etc. O custo de construção de estradas e ferrovias não é baixo nessas necessidades. Em especial neste país, que todos sabemos, pessoas e corporações não funcionam como deveriam, como nossos representantes. Mas apenas como deles próprios.
revista Trade and Transport
jornal Diário do Comércio
jornal DCI (O porto de Santos em 2024)