Primavera Brasileira, Parte 1

 

O mundo tem dado muitas demonstrações de que está aborrecido com muitas coisas. Os protestos em diversos países têm aumentado a olhos vistos em face do cansaço do povo. Começa-se a perceber que, muitos governantes, estão preocupados apenas com si mesmos. E não com o povo, seus eleitores. O que sempre existiu, e não é nada novo. Muitos deles esquecem-se facilmente – se é que todos sabem – que o povo é seu chefe. Ao contrário, muitos agem como donos do povo. No Brasil é uma constante. Não temos, há muito, servidores. Só temos tido patrões.

Nos países árabes o cansaço é com as ditaduras. Os governantes entram e não saem mais do poder. As eleições, quando acontecem, não são, diríamos, ortodoxas. Em que não há nem disfarce. Saddam Hussein, por exemplo, no Iraque, vencia as eleições com praticamente a totalidade da votação. Unanimidade de pensamento a favor (sic). Havia apenas alguns poucos votos contrários. O que, certamente, por melhor que seja o governante, é difícil de ocorrer.

Alguns resultados já podem ser vistos na Primavera Árabe. Diversos governantes já foram escorraçados de seus palácios. Se para melhor, só o tempo dirá. O importante é que o povo participe das mudanças. Para melhor ou pior. E muito ainda se verá nos próximos meses ou anos.

E aqui? Quando começa a Primavera Brasileira? Certamente há muito para se protestar. A priori, há que se recolocar os governantes em seu devidos lugares. De servidores dos cidadãos brasileiros. Entender que seus salários são pagos por cada um de nós. Com o suor nosso de cada dia, hora, minuto, segundo. É mais do que chegada a hora de se colocar os pontos nos “iis”.

A educação no Brasil é uma vergonha. Em que os estudantes já não sabem ler ou escrever. E não é só no primário. Em face da evolução contínua, sem testes. Em que se chega ao fim do primeiro grau sem saber juntar letras. Sem saber ler e interpretar textos triviais. Isso ocorre também nas universidades. E somos espectadores privilegiados dessa situação. Afinal, convivemos com ela praticamente diariamente. Em diversas partes deste país grande, varonil, cor de anil. Sermos um grande país não parece estar na pauta do dia. Temos visto leituras de alguns estudantes de pós-graduação que nos deixam pensando até onde chegaremos. Em que tropeços na leitura não são raros nem imaginários. A pobre da pontuação, coitada, é quase ignorada.

É necessário investir pesado na educação. É a única maneira de tirar o país do buraco em que se meteu nas últimas décadas. Já houve tempo em que o estudo era melhor. E, estranhamente, ao invés de melhorar, piorou. Será porque o único pensamento dos governantes é que é mais fácil lidar com um povo inculto? Massa de manobra como se dizia nos velhos anos 1960? O Japão, até poucas décadas, e posteriormente a Coréia do Sul, deram demonstrações cabais do que se pode fazer com educação. E se deve fazer. Mas, é preciso ver se isso interessa. E no Brasil, certamente não.

A carga tributária cresce continuamente. Já praticamente dobrou em pouco mais de duas décadas. E triplicou em cerca de seis décadas. E, no entanto, o nível de serviços oferecidos piorou. Quem poderá explicar isso? Freud? Chapolin?

O nível de corrupção cresce continuamente. Ler o noticiário no dia a dia é ter uma extraordinária aula de cultura da corrupção. Do desvio dos recursos públicos. É escândalo sobre escândalo. É juros compostos, ops, corrupção composta. Crescimento geométrico. E, quanto mais se corrompe, mais se desvia. E mais se passa a mão na cabeça e se pede resistência. Não temos mais, como nos velhos e bons tempos de punição, incentivo à honestidade. Nem ao estudo. É mais fácil se eleger para algo sem um diploma universitário. Ou sequer de qualquer nível.

A criminalidade cresce a olhos vistos. Sem punição. A impunidade é crônica. Os problemas de trânsito crescem. Os crimes motorizados são outro escândalo. Nunca se andou tanto na contramão de ruas e estradas. Nunca se matou e assassinou tanto. Nunca tantos filhos bateram em, ou mataram, seus pais. Nunca tantos netos fizeram o mesmo com os avós. O que estará acontecendo com o país? É um constante retrocesso. Tudo que foi conquistado lá atrás está sendo perdido. Estamos de retorno à barbárie. Mais moderna, mas barbárie.

Se formos relacionar tudo que queremos, este texto não terá fim. E temos espaço limitado. E não é a idéia, escrever um livro. Mas mero artigo de atenção. Assim, ficamos perplexos ao vermos que nada ocorre para melhorar. A cada dia, de alguma forma, o país está pior.

Assim, nossa singela expectativa, é quando começa a primavera brasileira. Que já está com algumas décadas de atraso. Quem sabe os árabes nos ensinem algo. Já que a colônia árabe no país é bastante grande. Bem como a européia. Em que os protestos já foram iniciados com os gregos. Os governantes os levaram à bancarrota, e agora exigem sacrifícios extremos. Está certo que a culpa é do povo, sempre. Ele deixou. E é também aqui. Afinal, os governantes saem do seio do povo. Nunca se soube que governantes não viessem do povo. Portanto, certamente, cada povo tem o governo lhe é o próprio retrato. A não ser, claro, quando há guerras, e o mundo já viu muito disso. Num caso desses, o governante é o conquistador. Mas, essa é outra história. Não é o caso aqui.

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Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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