Se eu fosse presidente (I)

 

Ao longo dos anos, mais precisamente quase duas décadas, vimos escrevendo sobre os grandes problemas brasileiros. Apontando os graves erros, e dando as soluções.

Mas, por mais incrível que possa parecer, como é normal no país, mostramos as soluções, e só se leem os problemas. E vamos piorando a cada dia, e nada é feito. Assim, abrimos espaço, mais escancarado, para as soluções.

Vamos começar por um assunto amargo. A bolsa esmola. E, como primeiro ato, pelo bem do país, decretar-se o fim da bolsa esmola. Imediatamente, sem mais delongas. É claro que lá virão muitos, com paus e pedras. Como? Matar de forme todas essas 14 milhões de famílias, com 60 milhões que a recebem?

Manter esta bolsa esmola, bem como outros programas sociais desse tipo, é condenar o país ao eterno atraso. Vide que não crescemos há 34 anos, com taxa média anual de 2,4%. Ou seja, quase duas gerações perdidas a se completar brevemente. Assim, acabar com o programa paternalista é patriotismo urgente.

E como ficam as pessoas participantes dela? Simples, irão trabalhar, produzir, consumir de fato, orgulhar-se, como será explicado.

Isso não é possível, não há empregos dirão os que querem manter as pessoas no cabresto, tendo seu voto e apoio. Mantê-los eternamente com as migalhas da bolsa esmola. Vamos à solução, fácil, rápida e prática. Pelo bem de 203 milhões de brasileiros. Pelo mal do governo, é claro (sic).

Nosso país, como se sabe, tem a pior infraestrutura e logística possível. O Fórum Econômico Mundial nos classificou, em 2011, na 104º. posição em infraestrutura. Sendo 91º. em ferrovia, 110º. em rodovia, 122º. em aerovia e 130º. em portos. Isso entre 142 países analisados. Em 2013, com 144 países, caímos para 107º. em infraestrutura e 135º. em portos.

E se formos mais fundo, nossa posição real não é essa, é pior. Se considerarmos que há no mundo, talvez, não mais do que uns 50-60-70 países que contam, fica mais trágico. Estamos muito além do último.

Fazemos 60% do nosso transporte interno por rodovia, o transporte mais caro que existe. E, apesar de toda dessa dependência, única entre os países que contam de fato, não temos estradas suficientes.

E as que temos são, na sua maioria, na média, péssimas, ruins e regulares. Temos só 1,6 milhão de quilômetros de estradas, com apenas 12% asfaltadas. Os EUA, que não são rodoviaristas, usam o modo em 32% das cargas, têm 6,4 milhões de quilômetros de estradas, sendo quase 64% asfaltadas.

Nossos portos têm muito a avançar. Faltam portos e terminais. E temos o absurdo de, um único porto, Santos, concentrar 26% do comércio exterior brasileiro. É um contrassenso.

Nossa ferrovia é a menor do mundo. Com apenas 28 mil quilômetros, o mesmo de 1920. O que representa 3,4 quilômetros lineares por km2 de território. A argentina tem 12, a Inglaterra 60, a França 70 e a Alemanha 130. A ferrovia da Alemanha, em termos absolutos, representa 160% da ferrovia brasileira, com 45.000 quilômetros lineares, com seu pequeno território.

Temos 63 mil quilômetros de rios, sendo 42 mil navegáveis e apenas 21 mil utilizados. Representando 2% do transporte da nossa carga. Portanto, há algo de errado. Enquanto isso, mantemos mais de 60 milhões de possível mão de obra fora do mercado de trabalho.

Assim, precisamos acabar com a bolsa esmola. Num dia se acaba com ela, e no outro as pessoas vão trabalhar na nossa infraestrutura. Se não for possível isso de imediato, no máximo dar-se-ia mais algumas pouquíssimas semanas para ajuste do programa.

Assim, dando início, finalmente, ao desenvolvimento e progresso através da mais produtiva ação que se pode imaginar, segundo nosso conceito.

Com trabalho, as pessoas terão orgulho. Terão um salário, pelo menos igual ao salário mínimo. Mas, sem dúvida, também bem acima. Terão registro em carteira, assistência médica, vale-refeição, vale-alimentação, vale-transporte, e tudo o mais que temos aqui. Com muito exagero, claro, mas é a atual e real situação do país.

Todos sabem que, com mais dinheiro, há consumo, há produção, há investimento. Acreditamos que todos podem imaginar uma nova massa de dezenas de milhões de consumidores com salário, e não com migalhas da bolsa esmola.

O crescimento é imediato. Acreditamos difícil alguém ousar seguir pelo caminho da contrariedade e da obviedade do colocado.

Ninguém desconhece as razões do fim da escravidão. Tanto no Brasil quanto no mundo. O capitalismo precisa de consumidores, e escravos não consomem. E a bolsa esmola não é mais do que a escravidão do passado, com roupagem presente, em que nessa não há escolha de cor. Apenas escolha de votos.

Com isso, nossos custos logísticos, em que transporte é maior parte, extremamente altos, serão muito aliviados. Melhorando nossa competitividade interna, em especial a externa.

Principalmente se considerarmos que estamos no fundinho da América Latina. Mais longe que a maioria dos demais países, nossos concorrentes, em especial os que contam, dos grandes países compradores e consumidores. O que aumenta mais nossos custos logísticos.

Após a finalização imediata da bolsa esmola como pedimos, outras providências deverão ser tomadas. Só ela não resolve.

É mister uma reforma tributária imediata. Oportunidade perdida várias vezes, em especial em 2003 e 2011. Há que reduzir a quantidade de impostos a no máximo meia dúzia. E que nenhum seja cumulativo, mas individual e seco. Em que, por exemplo, um IR de 25% seja 25% e não 33,3%.

E que se reduza radicalmente a média de 2.600 horas que as empresas gastam para pagá-los. E que a carga tributária seja razoável. Seguindo o mundo. O bem estar dos norte-americanos custa a eles 24% do PIB – produto interno bruto. E é muito menor que a nossa em muitos países melhores que nós. No Chile 21%, Coréia 27% e Suíça 28%. Dados de 2012 da OCDE.

Realizar, urgentemente, um ajuste da taxa de juros, de modo a estar pari-passu com o mundo. Onde ela é negativa há muitos anos. Por exemplo, 0% no Japão, 0%-0,25% nos EUA, 0,25% na União Europeia e 0,5% na Inglaterra. E, não consta a ninguém, que a inflação e o consumo tenham disparado e destruído essas economias com mais inflação.

Para inflação é preciso conhecer um pouco mais de economia do que nosso governo e o país conhecem. Há muitas formas de controle. A pior delas é através da taxa de juros. Que encarece o crédito para o empresário e evita ou reduz investimentos. Nosso investimento é medíocre, com média de 18% entre 1995 e 2014. E em queda. Sem investimento não há crescimento.

E, também de quebra, evita consumo maior, e não incentiva mais produção, mais emprego, mais consumo, mais investimento. E nem incentiva, como manda o figurino, o financiamento das famílias. E nada de meta de inflação de 4,5%, que é muito alta.

E nem com tolerância entre 2,5% e 6,5%, que é absurda. A Tolerância máxima de 10% dela, e se ficar em 4,5%, que a tolerância seja entre 4,05% e 4,95%. Precisamos investir no mínimo 30% do PIB, e crescer 7-8% ao ano.

Reforma da previdência social. Nas últimas décadas, e até de alguns poucos anos, a expectativa de vida cresceu radicalmente. Hoje se vive tranquilamente acima dos 80-90 anos. A idade de aposentadoria tem que acompanhar para não quebrar de vez a instituição. Quando falamos em quebrar, é tanto real quanto virtual. Real é a quebra pura e simples.

A virtual é aquela em que a sociedade tem que cobrir o rombo, como já ocorre, através de mais tributos, portanto, mascarando a quebra. Continua viva, mas, ligada a aparelhos.

O Estado tem que ser reduzido drasticamente. Não pode continuar aumentando os gastos além do crescimento da economia e da arrecadação de tributos. Aliás, nem tem que empatar. Tem que reduzir em valores absolutos, tanto em pessoal quanto em recursos.

O país não precisa dessa quantidade de funcionários para prestar o serviço que presta. E nem de um ministério das “mil e uma noites”. Não necessitamos mais do que uma dúzia deles. Nem sequer de 25 mil cargos de confiança, quando os EUA têm 2.300 apenas, para uma população de 317 milhões de almas.

Continua….

Jornal Diário do Comércio Virtual (site)

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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