Seguro no Brasil

 

Nos últimos anos o seguro avançou bastante no Brasil. Mas não o suficiente para ter um peso mais adequado na economia. Ainda não temos tradição suficiente na área.  A contratação de seguro ainda é uma decisão difícil. Por exemplo, nos automóveis, segundo se sabe, apenas 20-30% da frota é segurada. Seguro residencial, então, poucos. E ressalte-se, este custo muito pouco.

Vemos isso na nossa área de comércio exterior, em que poucos importadores contratam seguro, pelo que se ouve. E talvez cerca de 50% das importações brasileiras. É gostar de viver perigosamente demais, arriscando um processo logístico. E esse seguro, como se sabe, custa pouco. Dificilmente chega a 1,0. Sendo, em geral, de 0,1% pouco mais ou menos, e até bem menos. E que não pesa absolutamente nada na operação de comércio exterior.

Recentemente assistimos a uma palestra sobre seguro de crédito à exportação e ficamos escandalizados com os números apresentados. Considerando mercado interno e exportação em conjunto, a empresa tem 220 segurados. E ela tem quase 60% de market share. O que significa umas 400 empresas, ao todo, fazendo seguro de crédito. Temos mais de seis milhões de empresas no país. E cerca de 18 mil exportadoras. Mesmo considerando que pouco mais de 900 empresas realizam 92% da exportação brasileira, numa concentração muito grande, ainda assim é assustador.

Ficamos nos perguntando por que isso ocorre. Por que tantas empresas gostam de viver tão perigosamente. Considerando que o seguro de transporte custa tão pouco, e o de crédito também não é muito alto, variando, mais ou menos entre 0,5 e 1,3%, podendo ser abaixo de 0,1%, ficamos perplexos.

Ficamos pensando onde pode estar o erro. Será das seguradoras? Talvez. Não costumamos ver um trabalho das seguradoras sobre este assunto. Por exemplo, sobre nossos carros, nunca recebemos de alguém alguma proposta para fazer seguro. Não faríamos com quem nos abordasse, pois já fazemos há mais de 30 anos com o mesmo corretor e estamos satisfeitos, mas estranhamos a falta de abordagem. O mesmo ocorre com o seguro residencial.

Já realizamos várias palestras para seguradores e corretores, e temos outras em tratativas, sobre o Incoterms 2010, o instrumento mais importante do comércio exterior. E toda vez ficamos pasmos com o fato de que este é um quase ilustre desconhecido a todos. Praticamente ninguém o conhece, e quem já ouviu sobre ele mal sabe sobre seus termos e o que significa, por exemplo, um termo – CIF – Cost, Insurance and Freight. É, no mínimo, uma vez mais, assustador. Já tivemos oportunidade de dizer nessas palestras que a culpa de tão pouco seguro e tradição é das próprias seguradoras e corretoras.

No seguro internacional deveriam, no mínimo, conhecer o Incoterms 2010 como manda o figurino. Também deveriam ter um conhecimento maior sobre o comércio exterior, e não apenas que se trata de envio de mercadorias ao exterior (exportação), e compra de mercadorias do exterior (importação).

Todos sabem que, quanto ao fato de se poder importar CIF e CIP, há controvérsia no mercado. Não é um entendimento pacífico. Alguns entendem que pode ser importado livremente. Outros que não. A realidade é que, legalmente, para nós, não pode. A Lei complementar 126/07, bem como as resoluções 165/07 (substituída pela 197/08), 180/07 e 197/08 do CNSP – Conselho Nacional de Seguros Privados, e a circular 392/09 da Susep – Superintendência de Seguros Privados, não são claras sobre isso. Não foram adequadamente redigidas. Para nós, como estão redigidas, está claro que não pode. Já escrevemos sobre isso e até contestamos a Susep, sem sucesso. Se consultada, ela diz que pode, erroneamente. Talvez para esconder um erro, não refazer as normas?

Não vemos as seguradoras e corretoras explorando isso como deveriam. Nem fazendo aquele esforço para mudar o mercado. Mostrando às pessoas a vantagem de um seguro, por que devem contratá-lo. Mostrando às empresas o desconforto de se importar uma mercadoria sem a contratação de seguro. Arriscar uma logística por tão pouco não é negócio.

Enfim, mesmo indignados, entendemos que não podemos fazer nada, a não ser colocar nossas ideias nessas “mal traçadas linhas” (achamos que isso dá música se nos esforçarmos) (sic).

Revista Sem Fronteiras

Jornal Diário do Comércio (Seguro não tem peso no Brasil)

Revista Mundo

Jornal DCI

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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