Taxa de juros: para que lado o vesgo enxerga

 

Acreditamos que ninguém mais suporta falar, ouvir falar ou ver e sentir a nossa estratosférica taxa de juros. Qual a empresa que consegue produzir decentemente com ela? Que consumidor pode comprar normalmente com esta taxa absurda e desproposital, que somente consegue agradar aos cegos e vesgos?

O que está acontecendo com nossos homens públicos? Ou seria melhor perguntar o que está acontecendo com a nossa imensa população que aceita tudo isso? Será que dá para todos irem ao oculista, mudarem os óculos e passarem finalmente a enxergar?

É tão simples olhar para o que acontece no resto do mundo. Se a nossa taxa de juros real é a maior do mundo, e ninguém mais tem dúvidas sobre isso, há que se tomar providências. Vide que estamos amargando uma crise sem fim há três décadas e meia, desde 1981, e isso deve ser algum sinal, ainda que imperceptível (sic).

Se quisermos saber o quanto isso é prejudicial é só olharmos para o que acontece no resto do mundo. Em todos eles, as taxas de juros, em tempos de crescimento, apresentam forte relação com a inflação, isto é, são muito parecidas sendo, em alguns casos, até mais baixas, implicando em juros reais negativos. Em tempos de crise, como tem sido os últimos anos, as taxas de juros podem ser jogadas a “0%”, que é o acontece já há muitos anos em muitos países como Japão, EUA, e quase isso em outros como a União Européia.

Se não desejarmos olhar para os vizinhos, supondo estarem todos errados e somente nós certos, e querendo reinventar a roda, então olhemos para nosso próprio passado.

Se voltarmos algumas décadas veremos que nossa inflação era mais baixa quando apresentávamos crescimento. Segundo se pode acompanhar pela grande imprensa, o nosso país cresceu entre 1959 e 1981 a uma taxa asiática de 8,1% ao ano. Entre 1967 e 1974 crescemos a taxas maiores do que crescem hoje os países asiáticos. E quais eram os nossos níveis inflacionários nesses períodos de grande prosperidade? A resposta, obviamente, é que tínhamos inflação baixa, suportável.

Então porque estamos tentando reinventar a roda? Será que a existente não foi suficientemente aperfeiçoada de modo que até o Brasil possa utilizá-la? Se não for perfeita, e estiver ligeiramente ovalada qual o problema? O mundo está usando e com sucesso.

Precisamos parar de pensar em inflação, que quando ela não era tão vedete funcionávamos melhor. É preciso entender que inflação é própria de países em crise, e que os em desenvolvimento e desenvolvidos não tem problemas com ela.

Gostaríamos de colocar em discussão apenas as visões de Brasil e EUA quanto a como tratar a taxa de juros. Quando o EUA ameaçaram entrar em recessão no final da década passada, o todo poderoso presidente do FED, Banco Central norte-americano, a utilizou como forma de reativar a economia. Há seis anos ela é “0%”.

Pensamento básico nos EUA: A prioridade é o crescimento e o emprego.  Baixemos a taxa de juros e os empresários investirão aumentando a produção e o emprego. Baixemos a taxa de juros e os consumidores estarão dispostos a comprar e financiar mais.

Resultado básico nos EUA: a economia do poderoso irmão do norte da nossa América, que entrou em recessão voltou a crescer, ainda que modestamente, por ora. Logo estará voando novamente.

Pensamento básico no Brasil: A prioridade é a inflação. Aumentemos a taxa de juros, ou mantenhamo-lá bem alta em termos reais, que a inflação cederá. O consumo? Ora o consumo, ele é inflacionário.

Resultado básico no Brasil: O país patina há três décadas e meia em seu crescimento, o desemprego aumenta novamente, o consumo está em queda, e os salários começam a cair. E a inflação está cada vez mais fora de controle, quase o dobro da meta.

Mais uma vez perguntamos, singelamente, sob risco de cometermos o desatino de irritarmos o leitor. Quem está vesgo, nós ou os EUA e seu presidente do FED? Nós ou o mundo?

Novamente transferimos para o leitor a resposta já que, em análise sob paixão, sempre podemos incorrer em erros de avaliação.

E, também, novamente, conclamamos nossos governantes a assumirem a bandeira do desenvolvimento, para colocarmos fim a mais de três décadas de sofrimento, que isso já foi mais que suficiente. Em especial se concluirmos que esse é o melhor país do mundo, fisicamente. Temos o maior território do mundo para plantarmos e criarmos. Temos 16% de toda a água doce do planeta. Temos recursos naturais e subterrâneos como poucos. Uma costa marítima invejável. Um povo altamente criativo e que se adapta a qualquer situação (sic). E não temos as porcarias que outros países têm como terremoto, furacão, vulcão, etc. etc. etc.

Jornal Diário do Comércio Virtual

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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