UNEF – Uma experiência bem-sucedida de exportação
Temos visto, com muita tristeza, que o Brasil, por diversas razões, tem uma reduzida participação no comércio mundial. Representamos pífios menos de 1% das trocas internacionais, o que é pouco para nosso potencial.
O que explica tal desempenho? Muitas respostas talvez pudessem ser dadas utilizando os mais diversos argumentos como o câmbio passado, baixa competitividade de nossos produtos, portos caros e ineficientes, custos empresariais altos, enfim, resumidamente, o tão mal falado e verdadeiro custo Brasil.
É possível que cada um desses itens, e muitos outros que poderiam ser listados, participem com sua parcela para tornar nossos produtos mais caros que os da concorrência, mas gostaria de abordar o pequeno engajamento de nossas empresas no comércio exterior.
É sabido que apenas algumas milhares de empresas estão praticando comércio internacional, e apenas algumas centenas dessas detém a maior parcela das nossas vendas externas participando ativamente e com grandes volumes.
Sabemos, também, que o universo de nosso parque produtivo é composto de milhões de empresas e a quase totalidade delas nem sequer pensa ou aventa a possibilidade de expandir suas vendas para fora de nossas fronteiras.
Por que pensam assim? É provável que parte deste pensamento se deva ao nosso burocrático sistema de comércio exterior e a complicação e os riscos de uma aventura em terras estrangeiras, onde se está praticamente sozinho e à mercê de clientes e leis desconhecidas. Outra parte, porém, deve representar, talvez, o pensamento de que esse negócio de lidar com o exterior é coisa de gente grande e não de média, pequena e microempresa.
Nossas empresas devem mudar seu pensamento e voltar seus olhos para o ano de 1975, espelhando-se numa bem-sucedida experiência iniciada pela UNEF-União dos Exportadores de Frango, que era um consórcio formado por dez produtores que iniciaram as exportações desse produto.
Primeiro, por meio da conquista do Oriente Médio e, posteriormente, lançando-se na conquista do mundo, fazendo do Brasil, hoje, o segundo maior exportador mundial de frangos, com cerca de um e meio bilhão de dólares, saltando de uma produção de menos de 1 milhão de toneladas/ano para mais de 6,5 milhões de toneladas/ano. E o consumo nacional saiu de minúsculos cerca de 6 quilos per capita para cerca de 34 quilos atualmente, estando a 2 quilos da carne bovina, tanto em produção quanto em consumo, chegando até a ter sido, por sua pujança, herói do Plano Real.
Como se deu esse milagre? Naturalmente, não houve milagre, mas muito trabalho, numa bem-sucedida idéia de juntar pequenos produtores, que nunca haviam se lançado na aventura do comércio exterior, para formarem uma empresa capaz de, com muita coragem e ousadia, lutar em igualdade de condições com os gigantes da avicultura internacional na conquista de um espaço do grande mercado mundial de frangos.
Por que coragem e ousadia? Simplesmente porque esse era um produto fora da pauta de exportações brasileiras e porque a concorrência internacional, principalmente dos gigantes EUA e França, sempre foi e continua sendo muito grande.
Com condições tão adversas o que moveu nossas empresas nesse caminho e as fez ir tão longe a ponto de tornar nosso país tão importante nesse segmento, tendo nosso produto reconhecido em terras estrangeiras como sendo de excelente qualidade e em condições de sustentar um crescimento contínuo de nossas exportações ao longo do tempo?
Nada mais que uma crença e uma idéia na cabeça, além de perfeito conhecimento dos costumes árabes e de muita perseverança, de um visionário de personalidade forte, o Nunzio Quraitem, que acreditou na idéia e convenceu produtores, não sem muita luta e desgaste, de que isso era possível.
A Unef chegou a ser, como empresa individual, a maior exportadora de frangos do mundo, e em apenas cerca de meia década, dando um exemplo do que era possível fazer por meio de uma união de boas intenções, principalmente em se considerando a grande rivalidade que sempre existe entre empresas do mesmo setor. A idéia sempre foi a de serem rivais no mercado interno, mas unidas, como osso e carne, no mercado externo.
Isso funcionou muito bem e, em 1986, conforme inicialmente previsto (naturalmente que sem data fixa, já que é muito difícil prever crescimento e necessidade), a Unef extinguiu-se para que os produtores, já bastante crescidos e perfeitamente capazes de andar com as próprias pernas, pudessem continuar trilhando o caminho já desbravado.
Por que estou abordando esse assunto e revivendo experiências passadas? Apenas porque foi um bom tempo e de muita alegria. Mas relembro o episódio, principalmente, pelo fato de que isso não pode e não deve ser considerado como uma experiência única.
E, sem dúvida, essa experiência pode, perfeitamente, ser aplicada ainda hoje, ou em qualquer tempo, para tentarmos reverter o que vem ocorrendo com o nosso comércio exterior de exportação.
Eis a idéia, e nós que participamos dessa excelente experiência continuamos com ela na cabeça, acreditando que essa pode ser uma das saídas para o crescimento das nossas exportações e do crescimento da nossa importância no comércio internacional
Revista BIA-Boletim Informativo Aduaneiras
jornal O Estado de São Paulo (Uma experiência bem-sucedida de exportação)
revista Repórter Sindasp (Uma experiência bem-sucedida de exportação)