Embaixadores Comerciais

 

Como todos sabem, o Brasil não está em guerra há muito, muito tempo. Não temos qualquer problema diplomático com quem quer que seja. Nem temos no horizonte alguma nuvem que nos leve a pensar em algo assim. Somos um povo pacífico, pelo menos por enquanto. E até demais internamente, o que atrasa o país. E nas nossas redondezas não temos quaisquer perspectivas de sermos incomodados pelos nossos vizinhos. Todos bem menores, e que até dependem de nós.

Assim, nos perguntamos qual a função das nossas embaixadas nos exterior. E dos embaixadores. Essas figuras ótimas, que podem ajudar o país de várias maneiras, mas que não tem sido a questão. Às vezes, até pela colocação de políticos nessas posições. O que é um contrassenso com tantos diplomatas preparados. O que nos dá a impressão de que uma embaixada é apenas um prêmio “por bons serviços prestados”.

O país não tem dinheiro para gastos desnecessários como pensam nossos políticos. Nem tem tempo para “perder tempo” (sic). Há muito a fazer para termos um país minimamente justo, desenvolvido e respeitado. Embora muitos pensem que hoje o Brasil é respeitado no exterior. Não sabem que há mais coisas entre o céu e a terra do que nuvens, chuvas e aviões.

É necessário começarmos a trabalhar, e de forma consistente. De maneira que o Brasil comece a tomar alguma forma de país a caminho do desenvolvimento. É necessário que todos os esforços comecem a ser concentrados em direção a um futuro mais promissor.

Assim, entendemos que não se pode perder mais tempo. E que nossas embaixadas e embaixadores têm uma nobre missão a cumprir, o que já deveria ter se iniciado. Mas, sempre é tempo para isso, e agora é um bom momento. Governo novo, quem sabe idéias, pensamentos, desejos novos em direção a um futuro melhor, do qual possamos nos orgulhar.

Todos têm consciência de que uma das melhores formas de desenvolvimento é o comércio exterior. Que possibilita passarmos de um mercado consumidor de cerca de, em tese, 205 milhões de almas (sic), para 7,5 bilhões, também em tese. E que proporciona uma economia de escala considerável. Que consegue criar empregos em quantidade que o mercado interno não consegue.

Portanto, temos de, mais que urgente, dar nova destinação às nossas embaixadas e embaixadores. Transformá-los em embaixadores comerciais. E, se for o caso, ter, além do diplomata costumeiro, também a figura do comercial. Usando a estrutura da embaixada. Claro que alguns já podem rebater dizendo que queremos aumentar os empregos, férias e despesas. Pode até ser que isso ocorra, com o espírito que tem imperado no país. Mas, estamos pensando em algo mais descente. Um Brasil melhor, que nos dê perspectiva de futuro, o que não temos muito hoje.

Esses embaixadores comerciais teriam a função de agir como traders, sempre pensando em comércio. Dia e noite. Devem prospectar o mercado local sobre as possibilidades de colocação dos produtos brasileiros. Que tipos de produtos deveríamos vender a eles. Que características eles deveriam ter. O que precisa ser adaptado para atrair o comprador e consumidor estrangeiro.

Que quantidades são consumidas no país. Qual a produção local de tal produto. De quem são importados, se for o caso, ou seja, que são nossos concorrentes. Que política devemos adotar para conquistar aquele mercado. O que devemos implementar para ganhar, manter e aumentar nosso mercado.

De que modo nosso país pode ajudar o país em questão. Lembrando que a idéia de comércio exterior é a de parceria. De ajuda e transferência de benefícios. E não apenas de ganância e desejo de venda.

Portanto, sempre tendo em mente que o comércio exterior é uma via de duas mãos. Quem vende também tem de comprar. Esses embaixadores teriam também de averiguar que mercadorias o país tem para poder vender ao nosso. Para cumprirmos o papel que cabe a um comércio exterior responsável e útil, já que é sabido que importamos também. Aliás, é característica de todos os países. Ninguém, por mais poderoso que seja, é autossuficiente. Ninguém produz tudo que necessita. Às vezes, nem é possível em face de certas características.

E, também, antes que nos passe despercebido, não devemos esquecer as lições de Adam Smith, considerado o pai da economia. Nem de David Ricardo sobre as vantagens comparativas. Que gerou a divisão do trabalho. Em que propõe que cada país deve produzir o que faz de melhor. E comprar aquilo para o qual não é competitivo. Em que o comércio internacional deve ser feito por meio da venda de seus excedentes e da compra das suas necessidades.

Assim, é hora de mudanças. Hora de abraçar as boas causas, antes tarde do que nunca. Dar ao nosso futuro um futuro de fato. Acreditar que possamos, algum dia, ser uma grande País, uma nação. Não apenas um País grande como é o caso hoje, e um grande acampamento.

 

Jornal Diário do Comércio – 25/11/2010

Jornal DCI – 15/12/2010

Blog Sem Fronteiras – 04/2016

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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