Economia para todos – um Brasil melhor

 

Vimos notando, já há muitos anos, que um dos grandes problemas do país é a falta de conhecimentos econômicos da população como um todo, estando essa matéria restrita a um pequeno e seleto grupo de pessoas. Não necessariamente estudados ou cultos, que isso não é condição sine qua non. Vemos cada uma que nem Deus acredita, assim, nem nós podemos acreditar.

É flagrante que conhecimentos mais profundos poderiam mudar completamente o país. Por isso, acreditamos que o ensino da economia deveria ser permanente, iniciando-se no primário ou pré-primário, e seguindo-se pela vida estudantil como um todo. Nem deveria haver necessidade de faculdade de economia.

Com conhecimentos mínimos, a população influiria substancialmente no desempenho econômico do país, e, por exemplo, não jogaria tanto dinheiro fora ou não continuaria pagando dois carros e levando um.

Quantas vezes vemos pessoas comprando algo no supermercado, gastando, por exemplo, R$ 4,95 e dando uma nota de R$ 5,00 e não se importando com o troco, como se nada fosse. Ora, R$.0,05 representa 1%, ou inflação de mais de 2 meses no Brasil atual de inflação de 5% ao ano.

E a compra de automóveis financiados a juros de 1% como se fosse apenas isso? Quando em realidade os juros são maiores no final das contas, já que são calculados sobre o montante total da dívida inicial e não sobre o saldo devedor, que naturalmente vai diminuindo mês a mês, mas os juros continuam.

E quanto ao famoso empréstimo criado pelo governo, com desconto nos salários, na folha de pagamento, à taxas de 2 ou 3% ao mês? Explicaram ao pobre trabalhador, em especial ao aposentado, que esse juro é bem mais baixo que o atual juro cobrado pelos bancos, que são altíssimos, e que portanto ele é um grande negócio. Só não explicaram ao pobrezinho que esse juro de 2% ao mês representa 26,82% em 12 meses, bem mais alto que a inflação anual atual, e bem mais alto que os reajustes salariais.

O que quer dizer que, ao pegar esse empréstimo, ele estará despoupando. Ninguém teve a gentileza (sic) de lhe explicar que poderia poupar esses juros, que não são menos escorchantes que os bancários normais, já que representam 5 vezes a inflação e os reajustes salariais. E nem que, aplicando seu rico dinheirinho, e fazendo algum em cima, poderia ter mais recursos disponíveis para uma compra à vista e com algum desconto. Que é isso que ocorre nas compras à vista, com maior poder de barganha.

É preciso que todos entendam, também, que 10% ao mês, de qualquer coisa, seja inflação, aplicação financeira, etc., não significa 120% ao ano, mas 213,8%, já que é capitalizado. E isso não é difícil de entender. Algo que tenha valor 100, com mais 10% terá passado a 110. Com mais 10% passará a 121. Com mais 10% irá a 133,10 e assim por diante. Portanto, esses 100 estarão em 133,1 após 3 meses, e não 130, o que significa que, economicamente, nesse pequeno exemplo, 10 + 10 + 10 = 33,1.

Se o brasileiro se preocupasse mais com economia, e o governo fizesse sua parte na educação, ele saberia o que é superávit primário, que é a diferença entre receitas e despesas do governo, antes do pagamento de juros da sua dívida. E que ele está absurdamente alto, tendo sido em 2005 de quase 100 bilhões de reais. E que o montante do governo para investimento era uma parcela mínima disso, e nem sequer foi utilizado, o que explica que nada tenha sido feito. E, assim mesmo, representou apenas parte dos juros de mais de 150 bilhões pagos no ano, o que implicou numa elevação da dívida que já excede um trilhão de reais, ou quase 60% do PIB-produto interno bruto.

Portanto, nem é preciso mais delongas para mostrar o que seria possível mudar no país se mais algumas pessoas entendessem apenas alguns fundamentos básicos de economia.

Pode-se dizer, correndo algum risco, que embora tudo no mundo seja importante, a economia é fundamental, e é do que vive o mundo, aceite-se ou não. É até um absurdo, mas é assim.

Qualquer coisa numa sociedade gira em torno da economia. O direito é importante? Claro que é, mas como tê-lo sem dinheiro, sem uma economia que contemple a todos? Religião é importante? Claro que é, mas gira em torno da economia. O que será que explica a drástica redução do catolicismo em nosso país e o crescimento de religiões e seitas que prometem resolver os problemas de cada um? E que são sempre, obviamente, econômicos?

Viva a democracia, mas quem é que a tem? Os mais abastados, e que dela podem usufruir. Vide a política mesmo e o poder econômico que a dirige e à democracia.

Portanto, economia já, em todos os cursos e escolas e para todas as idades. Não é sem educação e sem conhecimentos econômicos que se faz uma país forte e se destaca no cenário mundial. Com tudo que há, o ser humano é antes de tudo um homo economicus.

Samir Keedi: Formar profissionais é importante. Mas, mais importante, é formar gente que faça o futuro.

 

Revista Mundo 10/2006

Revista O Contêiner 10/2006

Jornal Diário do Comércio, ACSP, 15/10/2009

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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